sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

"Never let me go": Dos versos de poesia que a vida sussurra

Que o velho perece, pra garantir lugar ao novo todo mundo já sabe. O que às vezes não é fácil de compreender, tampouco assunto batido, é despedir.
   E diz respeito a que valor o "des-pedir" tem pra cada pessoa, traduz-se em cada momento, e lembra em cada vida- que está longe de ser igual.
                 O modo como cada um recebe e guarda o que lhe diz respeito é particular, tanto como o apreço que se instala e desobriga-se a ir embora.
    O peito é lugar de afetos que a gente hospeda. Sem premeditar a infinita e circundante relação com a forma que cada um encontra de suportar o que lhe atinge.  Ela se faz, sem que percebamos e controlemos.
    O que toca nossas profundezas e amiúde faz perceber que "só faz sentido o que é sentido", não é uma medida de tempo que deixa isso pra trás. No passado. Nem seria o que prorrogasse cuidadosamente pro futuro. Mas sim o modo como isso se monta- e ocupa espaço- no presente, ainda mais quando há uma despedida que marcou.
                              A despedida é algo que existe na vida desde o seu princípio, e a sua primeira representação é um dos marcos do desenvolvimento. O amor materno é o primeiro que experimenta-se na vida. Acontece ao corpo do neonato encostar-se no da mãe, e os calores se transferirem, no primeiro momento da vida extrauterina.
            A partir daí- à medida que acontece o desenvolvimento-  se tem um ser único que se percebe apartado da mãe e do mundo. Dessa forma, que nos despeja à vida enquanto seres únicos é, de uma forma ou de outra, uma despedida.
                Retomando tudo em seu lugar, experimentamos sensações que inconscientemente remontam essa, durante a vida.
              A paixão, por exemplo como ensaio ao amor é uma tentativa de superarmos essa separação, num zunido intenso. A união de dois corpos que tentam ser juntos, sozinhos, por desejarem-se em doses incontroláveis.
          É desejoso viver e prazeroso lembrar, porque o enamorar-se provoca um abalo que bagunça, na audácia de se agitar pra afirmar vivacidade.
                       O  único tipo de risco que pode ser bônus e ônus ao mesmo tempo apresentando desvendamentos que provocam risos, e fazem o peito esquentar, de dois. Gostos e cheiros que são sentidos e lembrados.                                            

Vai se tornar amor, se essas doses encorajarem desvendamentos tão enormes quanto elas-  e que põem à prova muita coisa.
   Se assim for, o íntimo agora revelado ,vai servir de excêntrico pra qualquer coisa que um padrão já quis impor.
           Mas, infelizmente, existe o oposto. Pode ser que só um dos corpos se comprometa. E aí, estão o amor, e a despedida. Ambos com a sua estranheza, como tudo o que não é fácil de compreender.
                       A despedida de dois, ou de um dos corpos, quer significar o que dois corações que estivessem felizes não poderiam. E é por isso que deixa, ou deixam-se.
               Se  há espaço pra distância, há um verso sendo sussurrado, que você deve ouvir.
                "Me deixa em paz, podia ser um bom começo mas era o fim". E sendo assim,  o "nunca me deixe" pode não fazer sentido para a realidade de existências que se entrecruzam. quando o motivo não for o mais nobre.

sábado, 22 de novembro de 2014

Véu

              Com os cumprimentos vãos de quem pouco te conhece, te convido a vir.
Poderia começar de qualquer outra maneira, mas prefiro, contando como sempre tive amor á histórias. As de mistério,em especial. Contar e ouvir. Participar e pensar.
               Confesso nunca ter tido trégua da imaginação, ao ouvir uma história, e ao mesmo tempo agradecer á dimensão com que eu amo, e contemplo surpresas.
                O fortuito é o íntimo como seiva, e habita no centro de uma certeza que fica pra depois.
               E quem te avisa ou corrige sobre como imaginar, incauto, estará no mesmo ou em outros momentos tentando ser ouvido por mais alguém além de ti.
               Não consigo deixar de pensar em como isso pode ser dito sobre nós. Sobre nós quando conhecemos pessoas, e sobre como pessoas são histórias enigmáticas até bem mais do que querem ser.
    Tanto quanto aquilo que contam, e mais mistério do que a pitada que adicionam . Ou mais do que se propõem a desvendar, quando escutam. Confundem-se e leem-se, e o que as inquieta não é só isso.
            Inquieta, o modo como numa conversa os grãos e a seiva sejam os pontos ao invés das vírgulas, tornando palavra menor convite que um olhar. Porque de si mesmas não são alvo, e o olhar do outro é difícil de desvendar .
                    Queria dizer, que problema algum nisso veríamos, se fôssemos todos de ligar os dois. Dar atenção, tanto á palavra quanto ao olhar. Mais do que imagina, essa mistura escreve a história que você está tentando ler.
                   Não há mal algum em querer descobrir alguém, quando for da forma com que esse se mostrar.
        Do momento em que a urgência do inferir, e a ignorância te cobrirem com o véu que elas tecem, te recomendo a véu de ninguém querer tirar. Porque dizemos incautos os que nos ensinam como imaginar histórias, colorir desenhos, ou conhecer sobre algo, mas jamais nos admitimos incautos ao idealizar alguém.
         É dessa maneira que começo a contar : Não acredito ser a toa que duas pessoas disponibilizem-se a conhecer uma á outra. Uma vez que amor e disponibilidade - num dispêndio de esforços- nunca se puderam fazer em melhor intersecção do que alma e coração.
                         Sem isso, a relação que dois corpos tomam é de um egoísmo a dois.
                         Deve haver do contato, um espaço para além da ocupação de um nome, e que se admita ser lido da forma como pro par bem aprouver. Desde aí, a hora em que um deles se vestir de ausência, se fará bem vinda uma volta. E nessa volta um por si, e os dois pelos dois só vão retomar o que já possuem desse laço.

                           Do contrário: não vai estar se enganando ao pensar que é vão. Ou que essa história já teve o ponto de que precisava. Porque de meias verdades, ninguém precisa. Ou é vírgula posta pra continuar uma história onde há espaço, ou então, deve ser ponto.
     Disponibilidade subjetiva, não existe pela metade. Melhor dizendo: Deve ser a partir do mistério, do risco e do universo que uma pessoa representa, elaborado o interesse, a disponibilidade e o esforço da outra por ela. Jamais o contrário. Ou estaríamos fadados a acreditar que o trabalho de  amar está pra quando, como, e pra que condições se quer. Assim como a falsidade do idealizado.
                  Venha, sabendo que conhecer não é simples. O convite, feito está.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Baú de coisa nova

De toda lembrança que eu guardei sobre sensações, há tempo não lembro ter havido alguma que me presenteasse com a vontade- como de agora- de reabrir o baú. E o coração.
       Se revela, mas reinventada aquela pulsação que vem quase tão intempestiva como um choque térmico. Na verdade, é choque também, mas de realidade.                               
  O novo e por enquanto mais bonito, assume o espacinho pra mais tarde virar  como disse               Leminksi, em raiva ou em rima. Mas que por enquanto é só bonito, e não tem pressa de ser mais nada. 

                     É peito que acalenta, sorriso que aumenta, abraço que guarda. Não escuda e nem protege com tanto afinco, pois ainda tem muito a conhecer.
                   É  como aquela passagem do estado de disponibilidade que se experimenta ao escutar uma música e não ter alguém de quem lembrar, pra de repente encaminhar-se o preenchimento mansinho.                
                     Com a lentidão que o que é sentido deve ocupar.
                 É o tipo de saudade que evoca tranquilidade pelo reencontro casual, até o naturalizar, transferir, somar.
                        Só o que não foi esquecível, é possível transformar no continuado, que então não vai ser mais passageiro, ou casual. A segurança do experimentar sem a brevidade do julgar, é o que acomoda sem intenção, porque as doses a gente nunca sabe.
                               As roupas pra ceder ás vezes não servem, ou não agradam. Mas não são só essas coisas que você vai guardar lá.
                              No baú não se guarda só o que não tem mais serventia ou o que não tem previsão de uso. Tem baú que guarda riqueza que a gente nem capaz de perceber é, e sente todo dia. Ou que começa a sentir e se surpreende.
               Se for pra se tornar relíquia, vai ser mais tarde. O importante é deixar que por enquanto seja novidade. Vai lá e guarda. Abre o teu baú de coisa nova, que acumular aos pouquinhos não é problema.  Depois você faz o juízo.
Quando não for mais tão novo, da calma e da felicidade de acomodar pra ficar, ou do aprendizado de separar pra pôr fora, você não vai se arrepender.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Recôndito de Nina

Uma alusão a um dos meus filmes favoritos, que inclusive permite resgatar da memória, momentos da vida em que me senti como Nina.
Cisne Negro é um enredo fantástico que traz a história de uma garota, que alçou á sua dedicação como bailarina, o desejo tórrido de ser perfeita enquanto tal. Muito se consegue perceber á partir dos gestos de investimento que Nina faz ao aprimoramento da sua performance, e concomitantemente ao agrado e articulação para com as pessoas envolvidas neste processo.
                         Se alcança a percepção de que ambições nossas, nunca serão inteiramente por nós despertas, e sempre trarão algum tipo de reflexo, seja ele vindo do meio, ou da relação com pessoas que nos cercam.
            A Psicanálise de Sigmund Freud sustenta muito bravamente que tenhamos impresso em nosso  desenvolvimento e vida, um EU ideal, que provém das instalações de modelo de identificação e tem no superego, seu veículo de busca. Não deixando escapar a relação com a imago dos pais nessa captação de modelo, uma vez que enlaça-se com as duas figuras o Complexo de Édipo, temos como afirmar que o EU Ideal, assume e erige a posição de antiga imagem dos pais, assim aspirando-os como modelo. Isso remonta o fato de que existe uma admiração das crianças por esse modelo.
     A relação com o filme não me foge de justificar que Nina não seja mais uma criança, e que a imagem dos pais produzirá diferentes efeitos em torno de cada fase da nossa vida.
Porém observa-se uma forte tendência da personagem a incorporar o movimento de projeção produzido pela mãe, anteriormente bailarina, que teve a frustração de impedir-se a continuar a carreira em favor da criação de Nina.
     Contudo, o texto a seguir, faz um pequeno recorte da minha enorme intenção de demonstrar o universo escuro em que acham a incompletude, e a função observadora e punitiva do superego- se mesclando com a irreverência das paixões do id-, pra se esconder.

                     O giro da bailarina, continha tanta coisa que a própria performance dava conta de esconder. Tanta vontade de com os olhos envolver a plateia e o mundo, que lhe escapava á noção observar- e entender- como pra algumas colegas, só a plateia já bastava.
          Queria um séquito inteiro de adoradores, pra enxergar no próprio suplício por paz, a encomenda que antecedesse a entrega do conforto.
             Mas essa ideia de conforto era humanamente inconcebível.
          A única encomenda no seu nome enquanto pessoa, seria a própria frustração do rabisco que a mediocridade dela perante á Beth, Lily, e todo o resto do mundo -interiormente- representava em seus planos.

                Vários mestres ela teve, disfarçados ou não. Orientadores á direção de um giro, que não só ao ballet se remetia.
                   Era um problema. Um esquema de cinema, essa coisa de protagonizar.

                           Porque a bailarina abarcava tudo no giro
                                No giro do próprio umbigo como órbita
                             Sem plié nem elevé
                            Relevava e não elevava
                        Menina, você mesma é que se trava                        

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Todas as alternativas estão incorretas

     Sobre o amor que as pessoas acham que sentem, ninguém nega: É fantástico a nível do quanto é estranho . Entorpecente e fatigante.  
 Quase desesperador, mas com um pouquinho de zelo próprio.
             Em todo caso, o que a gente não nota é a porosidade que se abre na pele pra experimentar o suor, de alguém que a gente só acha que conhece.
                                   É isso. É esse "só". É esse "acha".
                     É dessa forma que a gente se engana com o que realmente significa
                   É dessa forma que a gente se engana com os outros
                      E principalmente: É dessa forma que a gente engana a si mesmo
                Tive a ousadia de tentar assegurar que mediante a todas as pessoas que já quis chamar de minhas, e aquelas:
                     Que visitas a mim fizeram
                      Que os lábios em mim encostaram
                        Que roupas cederam e carinhos fizeram: que me conhecia o bastante pra saber que tinha espaço. E que podia me dividir com alguém, e não em alguém.
             
                       Mas  o pior dos enganos:  que não tinha mais nada pra descobrir. Que tudo sobre elas aceitava e conhecia.
                            Todas as alternativas estão incorretas
                           Marque um x na que menos lhe atinge
                  Prefere perceber a verdade relutante, ou humildemente?
         A verdade na maioria das vezes é que a gente se desdobra até não ter mais coragem de se dividir. Ou se divide tanto que esfacela.
                  Lacan sustentaria que o amor é justamente dar aquilo que não se tem àquele que não é, e bem defende essa ideia ao dizer que a neutralidade absoluta nos é impossível enquanto humanos.
         Pra Jung, quanto mais conhecemos o que não gostamos em alguém, é mais sobre nós mesmos que descobrimos. E as duas ideias não se confrontam, pois é justamente achando que conhece tudo que a gente se entrega, e entrega até o que não tem. Do contrário, repele. Se guarda.
            Nós temos uma dificuldade enorme em concordar e aceitar que não existam réplicas perfeitas da nossa personalidade ou inúmeras reproduções da lista de qualidades que nós queríamos ter e não conseguimos, em alguém. Amor mesmo, seria quando você descobrir que não sabe de tudo, e mesmo assim  continuar tendo peito pra propor não se assustar. Quando você perceber que a pessoa não é só aquilo que você achava, e mesmo assim não culpá-la  por ser muito mais do que a tua ingenuidade e memória, e pelo seu salto. Pelo risco que você correu por vontade própria. Assumir a consequência pela liberdade que você teve em aceitar descobri-la. E principalmente, saber e concordar que se você se propuser a realmente conhecê-la, vai descobrir coisas que nunca imaginou.
         Toda ignorância- disfarçada de inocência- em quem prefere afirmar que se conhece o bastante e que está pronto pra encarar tudo no outro quando abraçada à ideia de que tudo deve ser melhor do que ficar sozinho, é o estado torporoso de um coração que já está cheio de não se encontrar.

           A falsa ideia de amor se apropria de tudo isso, porque não só esta presente na sujeição, que transforma laços em farrapos-  ou em nós cegos, passando do verdadeiro, do amor maduro, (que é o que Freud considerou o primário sinal de civilidade do ser bípede), pra tolice - até o achar que ter a própria companhia é um pesadelo que lhe espera por não ter achado alguém ideal.
       Nada parece estar para os ossos do ofício, a terra da pá, o trabalho, o desapego, amor no seu tempo, e tudo o que pra nós é difícil, como parece estar pro leito da comodidade, e pra mentira de que a gente ama quem quiser.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Da coleção de prudências que a gente não deveria ter

Sobre tentar controlar por quantas vezes sofreu ao priorizar o que deveria ser priorizado, pra depois não ter que medir o prazer como recompensa: achava que era impossível. E ficava inquieto a cada vez que nisso pensava.
   Dos corpos atropelados por imprudência no trânsito, das ressacas de segunda no trabalho, com azias insuportáveis, dos beijos que diante à recusa roubou, e do desrespeito de furar a fila e ocupar vaga de idoso no estacionamento, sabia que se lembraria mais. 
       E talvez tivesse sido por isso que agarrava as experiências em que agia de forma sensata como aval ao próximo reforço da própria satisfação sem pensar duas vezes.
Sabia que era dos momentos desquistosos que se elaborava aquela lembrancinha  
 amarga que vinha perturbar o marasmo a que se permitia depois do suor, como uma cantiga que interrompesse a melodia de que mais gostava. 
    Não furava a fila da padaria, mas não devolvia o troco que o balconista deu errado. Não matava cachorro de vizinho envenenado, mas chutava qualquer um que invadisse o seu quintal. E dentre tantas outras coisas, se atrevia a dizer que estava tentando ser melhor. E o problema, era um só : A ideia inconcebível de crescimento. 
      Já ela, dizia que tudo o que a gente julga prioridade deveria ter a ver com um estado de espírito tranquilo. Mas se contradizia fazendo do seu, inócuo, quando sufocava-se na vã tentativa de ser uma pessoa de perfeita conduta e equilíbrio. E os dois estavam errados. 
   A que ou a quem queremos contemplar com nossas decisões é tão devidamente - também- decisão nossa, que acaba por ferir outros predicados, outras pessoas, ou  entristecer a nós mesmos.
        De duas uma: A gente esquece que pessoas que tentam incessantemente tirar de letra, de vez em (quase) sempre, acabam além de chatas, sendo a causa das próprias frustrações.
       Ou então, a gente tenta compensar todo o bem que faz, na satisfação de uma vontade súbita não tão permitida assim. Como lápis e borracha, corretivo e caneta. Hachura. Rasura. Rasgo. Rabisco.
Mas o efeito na maioria das vezes é o inverso do intuito, porque se existe forma de percorrer uma rota à leveza, não deve ser essa.
        No fim é isso que todo mundo busca: A leveza. E até na ocupação tem gente que encontra! 
      Como tem a do pedidozinho de criança por um doce antes do jantar, do beijo roubado de uma surpresa alegre, do encontro proibido, do embriagar, do empanturrar, do desobrigar-se e desobedecer- que tampouco destroem a pessoa que somos em toda ordem e caos, como também não ameaça todo o resto, mas só não dá pra voltar atrás.
          Que às vezes bagunça um pouco, mas que não desintegra. E que principalmente vem pra mostrar que tanto o equilíbrio perfeito, quanto a honra ao prazer imediatoà todo momento, foram safradas e vendidas aos que mais iludidos estão sobre o mundo em que vivemos.
         A tessitura à melodia do prazer, com toda a suavidade tem que nos mostrar o envolvimento que temos naquilo que nos acontece de bom, mas sem inibir ou fazer chiar o verso da música que diz, que não viemos só à passeio. 
   Precisa-se do encaixe- ou da tentativa dele- de ambas as partes. E mesmo assim o que mais procuraremos, continuará sendo a leveza da satisfação dos prazeres, pois ela por enquanto é  a forma mais fácil que encontramos de acessar e revisitar sensações que ainda cobertas de incerteza, se apropriam do espírito, e da ideia que continua a nos encorajar a viver de maneira não mecânica. 
   Alguns deslizes nos lembram de como podemos tentar caminhar de encontro à uma solução melhor duma próxima vez, enquanto que outros nos presenteiam com a sorte de serem irremediáveis.  

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Amálgama dos intempéries emocionais

O que eu entendo por intempestivo, descobri há dias não só caracterizar a forma com que as coisas vem acontecendo.
     Descobri ser também o adjetivo que empresta ao meu perfil de impaciente, o mais adequado tom de gravidade.
      Como se no cerne da palavra-e de todos os seus sinônimos mais breves: imediato, desacomodado ou súbito- estivesse contido o vestígio, de que cada dia menos acostumada eu fico.
       E o que inquieta, não é só o sentimento de poda do pensamento, ou de bloqueio da vazão, como também a sensação que vem dele acompanhada.
     Aquela de que o princípio de todas essas outras sensações, vai além da instabilidade.
Sinto-me como se a cada vez mais, possa me assemelhar a um complexo de partículas, que pra dar consistência á uma mesma matéria, precisa ser organizado de maneira que cada fração continue o que falta na outra.
    Mas e quando é que será o fim do ciclo, se nenhuma delas é capaz de representar o desfecho, pra que se dê o todo?
     E talvez, a vida não muito longe disso, possa ser justamente compatível a essa ideia de algo fracionado.
Trazendo cada momento que contém uma etapa da nossa linha do tempo, essas frações como parte do todo, têm de ser as experiências vividas,  em cada uma delas as emoções experimentadas como partículas, e assim também representarmos matéria.
       A grande diferença está em não termos a opção de desenvolvermo-nos à prova de algo, que esteja anterior à experiência.
    Isto é, nem que quiséssemos, poderíamos estar totalmente protegidos de algo que, anterior à experiência, remeta a perigo.
Perigo para a existência, ou se preferir continuar com o esquema, a estrutura, a matéria.
O abalo nunca está tão longe, que não possa atingir a matéria pelo menos na sua fração mais exposta e delicada, quando a matéria formos nós.
    Intempestiva começa a ser a minha descoberta de que a imperfeição me é própria enquanto humana, e que a consciência de mim e o errar juntos, resultarão no amálgama mais danoso à minha matéria: A culpa.
Dos intempéries emocionais, surge a necessidade de refletir, e do refletir é gerado o esquema que explica grande parte.

Enquanto houver a ação que assume e carrega a humanidade, uma coisa levará à outra, em termos de reação, já que pra ser humano, se tem consciência de si, se erra e portanto, se culpa.
O amor, o medo, a raiva e a culpa serão alguns dos formadores dessa ordem, e são intempéries emocionais que entre si, mediam a relação egóica.

Eles, em cada momento da vida poderão mostrar que por mais consistente que seja a tua matéria, se algo te falta, é isso o que vai te reger ao desejo.
   E no desejo de ser desejado, é que mais humano ainda você se descobre. Às vezes conformado, às vezes impaciente, por intempestiva e culposa, ser a arte de quase sempre desejar aquilo, aquele ou aquela que  mais destrói a tua matéria.